Moda sustentável: novidades em biomateriais que estão substituindo couros e peles

Moda sustentável: novidades em biomateriais que estão substituindo couros e peles

A moda sustentável é uma exigência cada vez maior do mercado. Consumidores mais conscientes cobram das empresas processos e materiais amigos do meio ambiente e sem crueldade animal. E uma das melhores novidades nesse sentido são os biomateriais em substituição a couros e peles.

Empresas do mundo inteiro estão conseguindo ótimos resultados através da combinação de fontes naturais, conhecimento tradicional e técnicas avançadas de biotecnologia para desenvolver materiais para a moda sustentável. E a substituição de couros e peles de animais é um dos principais focos para reduzir os impactos da indústria que é uma das mais poluentes do mundo.

No mundo cada vez mais conectado globalmente, é mais fácil entender e sentir os resultados da produção de couro natural. Os produtos oriundos de gado tornaram-se uma fonte séria de desmatamento, enquanto as fazendas de peles de animais aumentam o risco biológico de disseminação de doenças zoonóticas.

Em contrapartida, a busca pela moda sustentável não para de crescer. Em menos de dez anos, dezenas de startups foram criadas ao redor do mundo com foco no desenvolvimento de biomateriais que não só eliminam a necessidade de produtos de origem animal, como incorporam práticas sustentáveis em suas cadeias produtivas.

 

Pressão por soluções de moda sustentáveis é crescente

A busca por biomateriais para a moda sustentável responde por um conjunto de fatores. Por um lado, a mudança na mentalidade corporativa e nos meios de produção se deve à pressão das organizações ambientais e de ativistas dos direitos dos animais. Por outro, há uma demanda crescente do consumidor, cada vez mais bem informado sobre os efeitos da produção de moda destrutiva no planeta.

 

Brasil é o 5º maior produtor de couro bovino do mundo

O couro é considerado o tecido mais antigo usado pelo homem. E o Brasil está entre entre os cinco maiores produtores de couro bovino do mundo.

De acordo com Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB), em 2019 o país tinha mais de 700 empresas ligadas à cadeia produtiva do couro, desde organizações familiares, até curtumes médios e grandes conglomerados corporativos. O movimento é da ordem de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 18,5 bilhões) por ano. 

Outra questão é que a indústria da moda também está ligada ao desmatamento da Amazônia. A participação da região na produção de couro do Brasil vem crescendo desde 2000, quando era de apenas 7%. 

Mas em 2010, saltou para 27% e, em 2020, para 43% do total nacional. Os dados são de um levantamento do realizado pelo Diálogo Chino com base em estatísticas do IBGE.

De acordo com um estudo lançado em novembro pela ONG Slow Factory (centro de inovação climática que aborda as crises cruzadas de justiça ambiental e desigualdade social), mais de cem marcas globais “estão trabalhando com fabricantes e curtumes provenientes de empresas ligadas ao gado criado em terras amazônicas recentemente desmatadas”.

 

A revolução dos biomateriais para a moda sustentável

Embora os materiais sustentáveis ainda representam apenas uma pequena fração da produção global de moda hoje, o “O novo imprescindível da moda: fornecimento sustentável em escala” de 2019 da consultoria McKinsey & Company, mostra um impressionante crescimento cinco vezes maior nos dois anos anteriores à pesquisa.

O couro biotecnológico, sem crueldade, já é uma das maiores tendências da moda sustentável. As soluções inovadoras que saem dos laboratórios abrangem quatro categorias: o uso de plantas, o reprocessamento de resíduos, substitutos tecnológicos e o upcycling. Muitos resultados já estão revolucionando a indústria da moda e muitos outros ainda estão em desenvolvimento.

Conheça algumas das novidades que já estão sendo usadas na moda sustentável!

 

Piñatex

Piñatex

O Piñatex é a marca registrada do tecido feito à base de resíduos de folhas de abacaxi já é vendido em 80 países. Mas a história por trás do seu desenvolvimento merece um parágrafo à parte. Em 1993 a designer e consultora de produtos de couro de luxo espanhola Carmen Hijosa fez uma visita a um curtume nas Filipinas.

Impressionada com o coquetel químico contendo potenciais carcinógenos humanos, incluindo formaldeído e corantes azo, usado para alterar a estrutura proteíca do couro evitando que ele se decomponha, a designer decidiu abandonar o couro tradicional. 

Só que na mesma visita ela entrou em contato com uma antiga tradição local de criar tecidos a partir das fibras das folhas de abacaxi. Voltou aos estudos têxteis e dez anos depois fundou uma startup em Londres, a Ananas Anam. Em 1994, um ano depois e aos 62 anos, obteve seu Ph.D. 

O resultado das pesquisas é o Piñtex, um couro vegetal voltado para a moda sustentável. Entretanto, há ainda um desafio: substituir por elementos naturais os 50% do material são compostos por uma resina à base de petróleo aplicada para fortalecer o material.

 

Mylo

Mylo

Os cogumelos têm sido um grande achado na produção de biomateriais semelhantes ao couro natural. Basicamente o processo geral consiste no cultivo de suas raízes em serragem ou resíduos agrícolas. Dessa forma, os brotos do fungo formam uma esteira espessa (micélio), que é então tratado para se parecer com couro. 

A base desse processo é utilizada por diferentes desenvolvedores de biomateriais, como a Bolt Threads, que já firmou compromisso de uso do biomaterial com gigantes da moda como Adidas, Lululemon , Kering e Stella McCartney. A empresa é a detentora da Mylo, nome da marca registrada de seu  couro vegetal, lançado em 2018.

A startup de biomateriais com sede na Califórnia MycoWorks também desenvolveu um couro alternativo para a moda sustentável com base no micélio. A Hermès já anunciou o lançamento de uma bolsa criada com o produto.

 

Furoid

Furoid

A startup Furoid SE desenvolveu um sistema no qual várias células-tronco únicas são reunidas em determinadas condições para crescer espontaneamente em um tecido em miniatura tridimensional – neste caso seria um folículo de pelo ou lã. 

Ainda em desenvolvimento, a tecnologia do biomaterial pode evitar a morte dos animais para extração da pele e a exploração de ovelhas por causa da lã.

De acordo com o CEO da empresa fundada em 2017, Henri Kunz,  são usadas no máximo cinco biópsias por punção de animal, após aprovação de um comitê de ética e sob supervisão de um médico veterinário, que realiza a anestesia. 

Segundo ele, todos os animais são mantidos como animais de estimação e monitorados por funcionários experientes. No total são cinco ovelhas em uma fazenda universitária na Nova Zelândia e cinco visons, o suficiente para produzir um suprimento infinito de linhas celulares.

 

Plant Leather

Plant leather

Assim como Mylo, o Plant Leather, da Allbirds, é originado de materiais naturais renovados em laboratórios. O material é feito de bio ingredientes – como óleo vegetal e borracha natural – que formam um couro 100% natural à base de plantas.

De acordo com a Allbirds, o couro vegetal emite até 17 vezes menos carbono do que o couro sintético e tem 40 vezes menos impacto de carbono do que o couro animal, significando um potencial de redução de 95% nos produtos finais.

 

Technik-Leather

Technik-Leather

O Technik-Leather, da von Holzhausen, é uma camada de microfibra criada a partir de garrafas plásticas de água 100% recicladas. O Technik é resistente à água, manchas, arranhões é produzido através de processo 99% livre de resíduos, no qual todo material usado é reciclado, incluindo a água.

A von Holzhausen é a marca de bolsas do ex-designer de carros Vicki von Holzhausen. Lançado pela primeira vez em 2017, o couro sustentável da empresa empregava um subproduto da indústria alimentícia, de modo que nenhum animal era abatido apenas para uso de sua pele. 

O Technik-Leather foi lançado um anos depois, em 2018, produzido com garrafas plásticas e evitando que o material acabe em aterros sanitários.

Estes são apenas alguns exemplos, mas o desenvolvimento de materiais para a moda sustentável aumenta cada vez mais ao redor do mundo. E há muitas outras iniciativas que todos da cadeia produtiva de moda podem incluir na produção de suas coleções de moda

Veja, por exemplo, como o fio de poliamida biodegradável pode ser um diferencial em cadarços!

Compartilhe

Junte-se a nossa lista de leitores.


    Ao informar seus dados, você concorda com a Política de Privacidade.