Jeans e design circular: o que você precisa saber

Você já ouviu falar em obsolescência programada? O termo significa aquilo que você sente cada vez que o celular não suporta mais uma atualização, o computador não tem a entrada que você precisa ou uma roupa é considerada “cafona”. Sim, porque por muitos anos, desde a Revolução Industrial, essa foi a estratégia da indústria da moda: uma obsolescência que não é a funcional, como a dos aparelhos, mas é percebida. A moda jeans é um bom exemplo disso, que pode ser transformado com a ajuda do design circular.

 

Jeans, uma paixão que pode ser sustentável

Desde que o jeans surgiu, ele se tornou um trunfo no mundo da moda: bonito, extremamente versátil. O Brasil, por exemplo, é um dos maiores fabricantes de jeans. Hoje já são 25 milhões de metros fabricados por mês, movimentando cerca de R$ 8 bilhões por ano.

Apesar dos modelos básicos que nunca saem de moda e se tornaram ícones, a verdade é que o consumidor, de uma forma geral, nunca deu as costas para as novidades no jeanswear. E a indústria soube aproveitar isso em todos os aspectos.

A questão é que a fabricação do jeans sempre foi altamente poluente, com desperdício de água, uso de materiais para tingimento que agridem o meio ambiente e grande consumo de energia.

A situação se agrava com o desperdício de peças geradas pela a inserção cada vez mais rápida de novas coleções no mercado, um processo que o design circular procura resolver.

 

Entenda o design circular

Design significa projeto, o desenvolvimento de todo o planejamento de um produto – incluindo, aí, função, preço e tempo de uso.

Por isso, enquanto a moda foi projetada com a intenção de se tornar obsoleta e descartada para ser substituída o mais rápido possível por uma nova coleção, hoje esse conceito passa a ser revisto através do design circular.

A grande questão é que a moda é, sim, altamente poluidora. Polui mais que navios e aviões, sendo responsável por 8% a 10% das emissões de gases-estufa em todo o mundo, segundo a ONU Meio Ambiente.

Além disso, é também o segundo setor da economia que mais consome água, produzindo, sozinha, 20% das águas residuais do mundo e liberando 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos todos os anos.

Mas a pegada ecológica vai muito além destes números impressionantes, que mostram o descaso da indústria do jeans com a saúde do planeta. Ela passa pelo design.

 

Jeans para esta e as próximas estações

No fundo, a maioria das pessoas não quer que aquele jeans do coração se acabe nunca. Mas acaba não resistindo ao novo modelo, afinal aquele modelo de cintura baixa e boca larga pode não estar na moda daqui a seis meses.

O design circular no jeans prevê peças com maior usabilidade, que possam ser customizadas, que agreguem valor a longo prazo, que sejam intercambiáveis e combinadas para o uso nas mais diversas ocasiões.

É o jeans produzido de uma forma mais sustentável, mas também com um design pensado para durar não uma, mas duas, três ou mais estações. Até mesmo em outras mãos, através dos brechós.

 

É preciso desacelerar o consumo e repensar o jeanswear

O design circular é uma forma de desacelerar o consumo exagerado e repensar o jeanswear como um lifestyle saudável, sustentável, mais humanizado.

Para se ter uma ideia, de acordo com os dados da ONU Meio Ambiente, em 2019 eram consumidas 60% mais peças do que 15 anos antes – mas da metade do tempo do que eram em 2004. Isso significa US$ 500 bilhões por ano jogados em lixões e aterros na forma de roupas descartadas.

Literalmente, dinheiro jogado fora, enquanto outros tantos são consumidos novamente em forma de novas peças. Uma pesquisa realizada pelo Instituto 2CV do Reino Unido com consumidores em cinco países (Alemanha, Brasil, China, Espanha e Estados Unidos) mostrou, em 2017, que as mulheres têm em média 8 calças jeans no guarda-roupa – menos as brasileiras, cuja média é 9,3.

A mesma pesquisa mostrou também que a maior dificuldade das mulheres em relação ao jeans é encontrar um produto que se ajuste ao corpo.

 

Conheça os 3 pilares do design circular

Assim, o design circular é uma estratégia abrangente que visa melhorar a experiência do consumidor e levar mais sustentabilidade à produção. Há 3 princípios básicos no conceito:

 

1 – Resíduos são nutrientes

Usando a lógica cíclica da natureza, onde nada se perde, tudo se transforma, convertendo resíduos em insumos para novos produtos, procurando recuperar o valor de cada material ao final do ciclo de uso.

É, por exemplo, a incorporação de retalhos, resíduos têxteis e fios recicláveis na moda jeans, ressignificando itens de coleções passadas, pontas de estoque, etc.

Deve haver ainda a distinção entre o ciclo técnico e o ciclo biológico – e que é a base do famoso ‘gráfico borboleta’, desenvolvido por Braungart e McDonough para a Fundação Ellen MacArthur;

 

2 – Energia limpa e renovável

É o encorajamento para ir além da eficiência energética, minimizando consumos e reduzindo os impactos no meio ambiente. É indispensável o comprometimento com o uso de energias renováveis durante o processo de fabricação, gerando um efeito positivo e estimulando o desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias para substituir os combustíveis fósseis finitos e poluentes;

 

3 – Celebração da diversidade

Os sistemas mais diversos tendem a ser mais resilientes e a diversidade – de culturas, espécies ou mesmo de soluções – deve ser priorizada em vez das soluções universais utilizadas tradicionalmente. O design circular na moda jeans deve oferecer produtos e soluções pensadas para as particularidades de cada público, melhorando a experiência do consumidor.

O design circular faz parte da transformação para um mundo da moda mais sustentável, onde o jeans é uma das peças-chave mais importantes para gerar prosperidade social, econômica e ecológica para todo o planeta a longo prazo.

Aproveite para saber mais sobre o conceito de economia e design circular descobrindo as principais relações entre tecnologia, moda e sustentabilidade.