Mercado de Luxo: confira a entrevista com Carlos Ferreirinha

Mercado de Luxo: confira a entrevista com Carlos Ferreirinha

“A tomada de decisão do consumo de luxo ocorre quando a emoção ultrapassa a razão”.

A frase define bem a expertise de Carlos Ferreirinha no mercado de luxo, mas muito se engana quem tenta resumir sua atuação a ser presidente e fundador da MCF Consultoria, uma empresa especializada em Inteligência Estratégica para Gestão do Luxo e Premium.

Ferreirinha, como é conhecido, tem mais de 40 anos de trajetória profissional. A formação tradicional é de Administração de Empresas, Executive Marketing Leadership e MBA em Finanças, mas ele vai muito além.

É líder, formador de opinião, influencer, advisor, colunista, pensador estratégico, gestor, palestrante. É um visionário. Não é à toa que coleciona posições de destaque na indústria do luxo, como diretor de Marketing, Comunicação e Novos Negócios da Louis Vuitton Caribe, América Latina e Brasil ou o mais jovem executivo em posição de Presidência no Grupo LVMH.

Ferreirinha é ainda sócio fundador da Bento Store (tida como uma das empresas mais inovadoras do mundo) e criador da Associação das Marcas de Luxo (Abrael).

Visão de Carlos Ferreirinha sobre o mercado do luxo 

Haco – Você tem mais de 25 anos de experiência no mercado de luxo na América Latina e entende como poucos a relação entre criação e desejo de consumo de grandes grifes. Nos últimos anos, inclusive na pandemia, o desejo e procura por marcas internacionais aumentou muito, impulsionados  principalmente pelos influenciadores e redes sociais. Qual é a sua visão sobre essa onda de desejo que coloca ainda mais valor em peças exclusivas de marcas como Gucci, Chanel, Louis Vuitton e outras?

Ferreirinha – São aproximadamente 30 anos dedicados exclusivamente à atividade do luxo. Não estamos mais na era da qualidade, onde produtos e serviços se diferenciavam pela função. Os últimos anos apresentaram uma mudança profunda e expressiva na qualificação dos produtos e serviços. Hoje o ruim é a exceção. No passado, era o contrário: a exceção eram os produtos e serviços excelentes, de qualidade.

Essa transformação ou, até mesmo, evolução, gerou uma nova força competitiva baseada na diferenciação do “algo a mais”, que surgiu através da “era da experiência”. São produtos e serviços que não só competem pela função, mas acima de tudo, pela desejabilidade.

Então essa “era da experiência” turbinou várias oportunidades, como a gourmetização do brigadeiro, a criação de sorveterias especiais ou os carros em estilo de aventura sem que sejam realmente produzidos para isso, por exemplo.

E possibilitou o crescimento da atividade do luxo, que, na verdade, sempre entregou esse “algo a mais” e, nos últimos anos, encontrou o melhor momento da história para crescimento e expansão, com um total alinhamento com a “era da experiência.”

Isso tudo somado ao fato do mundo estar mais “rico”, com mais dinheiro concentrado, com novas regiões e clusters de riqueza impulsionando as oportunidades. Dessa forma, a grande maioria das marcas de luxo passou a fazer parte e a ser fortemente impactada por processos e estratégias profissionais.

Haco – Ainda sobre esse crescimento do segmento de luxo voltado para moda, entendemos que as grifes, apesar de nomes consolidados, também estão se adequando ao momento e escolhendo embaixadores populares (cantoras jovens, modelos, influenciadoras).

Até que ponto as referências criativas desses designers e marcas são igualmente influenciadas pela cultura jovem e hiper conectada da atualidade?

Ferreirinha – Não tem como não serem influenciados. O mundo não é mais pautado pelo dinheiro tradicional, pelas famílias tradicionais e pela riqueza tradicional.

O homem mais rico da europa, Bernard Arnault, fez sua fortuna em menos de 35 anos e é dono do (maior) conglomerado (de luxo do mundo, o Grupo) LVMH.

O segundo homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, fez fortuna em uma geração e é dono da Amazon. O homem mais rico do mundo é Elon Musk (fundador e diretor da SpaceX e CEO da Tesla, entre outras empresas), que está exatamente na mesma posição de geração de riqueza dos citados acima.

Entre as cinco pessoas mais ricas do mundo, está Amancio Ortega da Inditex, grupo de empresas proprietárias de marcas como Zara. Uma fortuna gerada em apenas 45 anos.

A força de Beyoncé, de Rihanna e até do Mbappé é mais expressiva do que a realeza atual da Inglaterra e de outros países. Rhianna é uma bilionária pela sua marca Fenty (beauty) e não pela música. A família Kardashian deixa claro as mudanças da força de influência.

 

Maiores inspirações no mercado de luxo

Haco – Fazendo um gancho com a pergunta anterior sobre referências criativas, quais são as suas maiores fontes de inspiração, não só de forma criativa, mas principalmente no que diz respeito a ideias de mercado, expectativas de consumo e ações de ascendem o desejo por itens de luxo de forma geral, moda, decoração, perfumes e joias?

Ferreirinha – Não sou “formatado” nesse aspecto. Eu consumo informação da forma mais fluida e orgânica. Leio muito variedades e informações cotidianas. Sou obcecado por séries, filmes, arte e cultura urbana.

Sobre o luxo, sou atento aos movimentos das marcas há praticamente 30 anos. E tenho a MCF Consultoria, que tem o privilégio de atuar em muitas atividades diversas, trazendo um rico e vasto conhecimento no meu dia a dia.

 

Haco – Voltando o foco para o mercado nacional, quais são as suas expectativas para os próximos anos? Devemos continuar vendo o crescimento do interesse pelo mercado de luxo, principalmente pelo consumo, ou há a maior chance de voltarmos a ver um segmento nichado e voltado para públicos específicos e clássicos?

Ferreirinha – O luxo é um segmento de nicho. Mesmo crescendo e se expandindo, segue sendo de nicho. O mundo não é feito do excelente Hotel Villa do Vale em Blumenau, é feito de cadeias como o Ibis. O mundo não é feito de restaurantes especiais como o Fasano e sim, de McDonald ‘s. O mesmo se aplica à Zara, Riachuelo, Uniqlo e Renner. O mundo é de volume e não de nicho. E OK para isso.

Uma vez isso estando claro, eu vejo que o luxo vai seguir em expansão e profissionalização, como falei na primeira pergunta, com crescimento da riqueza em diversas regiões e novos clusters de consumo. E, dependendo da atividade – beleza, acessórios, etc – esse crescimento fica ainda mais fácil e faz ainda mais sentido.

 

Haco – As grifes internacionais ainda são mais expressivas para o desejo brasileiros do que nomes nacionais. No entanto, vemos que há mercado interno a ser explorado. Para quem tem interesse no segmento de luxo, seja moda ou design, qual o seu conselho para dar o primeiro passo?

Ferreirinha – É importante entendermos que esse interesse por grifes internacionais não se trata do brasileiro e do Brasil. É assim no mundo. A China vem ocupando a segunda posição mundial em consumo de luxo, em alguns momentos a primeira posição. E estamos falando de marcas de luxo da Europa, em sua grande maioria. O mesmo acontece com o Japão e com os EUA, que são economias modernas e fortes. Ou seja, não se trata apenas do Brasil.

Por outro lado, é importante considerar que, dependendo da atividade, as marcas nacionais de luxo são mais fortes do que as internacionais, como é o caso da hotelaria, gastronomia e joalheira, principalmente quando falamos de joias autorais.

Da mesma forma, é quase impossível sermos referência de luxo em beleza ou carros, por exemplo, mas somos autoridade em design, imobiliário e mobiliário. E temos muito, mas muito caminho a percorrer na moda luxo.

O luxo enquanto atividade de negócio, gestão e investimento demanda persistência, comprometimento imperativo com a excelência, qualidade sem concessão, investimento contínuo – independente do quanto – resiliência para os retornos de investimentos no longo prazo e muito, mas muito trabalho de marca. A cultura empresarial brasileira é mais a curto prazo.

Pela entrevista com Ferreirinha percebemos como o mercado do luxo está conectado às formas não tradicionais de pensar o mundo e a importância de consumir informação de forma orgânica, acompanhando a cultura urbana e o movimento das marcas.

Uma ótima inspiração para quem quer investir no mercado do luxo!

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