Estilo minimalista: o menos é realmente mais?

Estilo minimalista: o menos é realmente mais?

Mais tempo, mais liberdade, mais sustentabilidade e qualidade de vida. A ideia de que precisamos de pouco para sermos felizes vai muito além da moda. Ela já está, gradualmente, fazendo parte do dia a dia, onde se cortam os excessos e desperdícios. Seja na compra do mercado, na escolha dos móveis, nas coisas que levamos na bolsa e até na forma de nos comunicarmos. Há anos, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) já dizia que “escrever é a arte de cortar palavras”. Esse jeito de tornar a vida mais fácil tendo só o que realmente importa é o estilo minimalista.

 

O que é o movimento minimalista e qual a relação com a moda

Considerado um dos gênios da arquitetura moderna, Oscar Niemeyer (1907-2012) valorizava as linhas simples e os espaços livres. Para o “poeta dos traços”, é pelo vazio que a luz passa e se transforma, é por ele que interagimos com as construções, com a natureza e entre nós mesmos.

Os dois “poetas”, ainda que em áreas diferentes, estavam intrinsecamente ligados ao conceito minimalista. O movimento surgiu como uma tendência das artes visuais entre o fim da década de 50 e início de 60, em Nova York, em resposta ao expressionismo abstrato. A ideia era expor a realidade física despida de efeitos decorativos aos olhos dos observadores.

Ao longo dos anos, o despojamento, a simplicidade e a neutralidade do estilo minimalista se espalharam por todas as áreas. O movimento pelo fundamental ganhou cada vez mais força, propondo formas mais conscientes e inteligentes de viver, onde menos é mais.

Já como conceito consolidado, a expansão foi acelerada pela pandemia e a necessidade de cura do planeta. O freio forçado ao consumo desenfreado evidenciou a necessidade de repensar a indústria da moda, uma das mais poluidoras do planeta. O estilo minimalista passa a ser, então, o principal contraponto ao fast fashion.

 

Fast Fashion: puro desperdício e desrespeito ao meio ambiente

De acordo com levantamento da AFP, só no Deserto do Atacama (Chile), a fome da fast fashion criou um cemitério com cerca de 39 mil toneladas de roupas que ninguém quer comprar. Isso, entre as quase 60 mil toneladas que chegam todos os anos, de todas as partes do mundo, para serem revendidas para a América Latina.

Para sustentar o vultoso crescimento de 5,5% ao ano, o mundo da moda e a indústria têxtil geram números impressionantes. São cerca de US$ 500 bilhões de roupas jogadas fora, 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa e 500 mil toneladas de microfibras plásticas resultantes de lavagens de roupas.

Os dados do relatório “A new textiles economy: Redesigning fashion’s future”, da Ellen MacArthur Foundation, também lançam algumas ideias. Entre as propostas para melhorar o cenário, o documento sugere ações como aumento do uso de transporte sustentável, melhoria da mistura de materiais, criação de embalagens mais amigas do meio ambiente, descarbonização das operações de varejo – e redução da velocidade de produção de roupas, o que está diretamente relacionado ao estilo minimalista.

Essa, aliás, é uma das partes em que o consumidor tem relevante importância, através da adoção do estilo minimalista e do slow fashion.

 

Como a moda minimalista é vista pelo mercado

O estilo minimalista é a contramão do modismo, do consumo pelo consumo, da moda descartável das fast fashion. Mas, além da sustentabilidade da adoção de  peças mais duradouras, de design clássico, e que são ser intercambiáveis, há todo um lifestyle.

A opção por um consumo mais criterioso, com a qualidade em toda a cadeia produtiva, com processos transparentes e marcas que desenvolvem ações sociais, traz uma mensagem implícita de que as pessoas são mais importantes do que as coisas.

Ao relevar a qualidade em detrimento da quantidade, é possível abrir espaço para o que realmente importa. Mas, apesar de ser fruto de movimentos contra culturais anteriores que questionavam os excessos, o estilo minimalista não pretende criar uma sociedade alternativa.

Ao contrário do hippie e do punk, por exemplo, o estilo minimalista pode ser aplicado no próprio sistema, na realidade do dia a dia de cada um. Uma mudança no guarda-roupa já abre vários espaços, físicos,  emocionais e comportamentais, para melhorar a qualidade de vida.

 

Mini guia para aderir ao estilo minimalista

O primeiro passo é entender que o problema não é comprar, é comprar em excesso. Consumir o que não precisa é a ostentação e desperdício. As fast fashion geram modismos descartáveis.

A ideia do estilo minimalista é criar looks personalizados, que refletem o seu jeito de ser e, portanto, são atemporais. Por isso, as peças precisam agregar valor ao guarda-roupa.

  • Deixe a atualização do look para os acessórios. Pode ser um cinto, lenço, colares, brincos, bolsas, calçados ou chapéu. Mantenha o figurino básico e, sempre que quiser dar um it a mais, crie através das peças menores;
  • Use coleções-cápsula. Elas são ótimas para lançar novidades entre estações, fazendo um link entre a anterior e a próxima. Aproveite para mostrar como suas produções podem ser sustentáveis fazendo releituras de antigas coleções;
  • O look monocromático é sempre elegante e fácil de usar. Além disso, é uma ótima opção para um visual mais vibrante, como vermelho, laranja ou amarelo. Outra boa ideia é o ton sur ton ou degradê;
  • Cuidado com as estampas. Elas podem cansar e/ou deixar o look muito datado. Prefira as discretas, clássicas e sutis. Poás, listras pequenas, xadrez e florais discretos são boas opções;
  • Foque em elementos centrais na sua coleção de moda e mostre que há pelo menos três formas diferentes para serem usados. Peças satélite também precisam conversar entre si;
  • Crie fatores de autenticidade nas peças. Mostre que o estilo minimalista não é uma fase  nem um discurso vazio, mas uma proposta coerente com a sua identidade de marca;
  • Prefira modelagens e cortes tradicionais, com costuras estruturadas. Priorize a qualidade da matéria-prima e dos acabamentos, criando diferenciais em cada coleção;
  • Cores básicas e neutras são mais fáceis de serem combinadas entre si e não cansam. Branco, preto, cinza, azul-marinho, marrom, bege devem ser prioridade;
  • Peças únicas – macacões, vestidos – também têm tudo a ver com estilo minimalista. São itens que estão sempre na moda, práticos e funcionais;
  • Cores fortes e básicas devem ser acompanhadas por tons neutros. Assim criam um destaque sem sair do estilo minimalista;
  • Pense no toque na pele. A roupa deve ser guardada para outras estações, por isso precisa ter etiquetas e acabamentos confortáveis.

Então lembre-se: saber combinar peças é saber se vestir bem, é demonstrar personalidade. O estilo minimalista precisa oferecer opções básicas, clássicas e práticas, mas criativas. A coleção deve atravessar estações para garantir seu lugar no armário e conquistar seu público por seus diferenciais de qualidade.

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