O mundo da moda sempre foi um lugar de extenso diálogo cultural. A cultura asiática, por sua vez, é uma constante fonte de inspiração desde, provavelmente, que o viajante italiano Marco Polo (1254-1324) voltou contando as aventuras no continente.
A verdade é que muito do que se vê hoje não é novidade e já teve forte representatividade nos anos 70. O visual andrógeno e agênero, por exemplo, foi marcante na vida artística e cultural da época. David Bowie foi um dos que se renderam à visão revolucionária do primeiro designer japonês a estrear uma coleção em Londres, Kansai Yamamoto.
O interessante é que, apesar de tão inspiradora, a cultura asiática nunca pareceu muito bem compreendida na moda. E talvez seja justamente por isso que continua surpreendendo.
Logo no comecinho da década de 80, outro designer japonês e também Yamamoto, só que Yohji, apresentou pela primeira vez uma coleção de moda em Paris. O público especializado estranhou e levou tempo para entender o conceito de quem mais tarde seria considerado um dos maiores nomes da moda asiática.
Personalidade ou identidade? A visão da moda pela cultura asiática
A questão é que o Ocidente parece estar finalmente percebendo que, para a cultura asiática, a moda não é uma questão de personalidade, mas identidade.
Quando falamos em cultura, é, realmente, de forma geral. A música k-pop, por exemplo, nascida na Coreia do Sul, se expandiu para outros países asiáticos para de lá ganhar o mundo.
Para quem não sabe, o Spotify indicou que em 2020 o Brasil foi o quinto país em consumo do gênero, dentre os 92 atendidos pela plataforma. Os dados divulgados mostram que o k-pop cresceu em média 47% ao ano até 2020.
Um ano depois, no entanto, a empresa excluiu do catálogo todas as músicas da KakaoM, uma das maiores distribuidoras musicais sul-coreanas, por problemas em relação às licenças das canções.
Bobagem? Para ter ideia da repercussão, este foi o assunto mais comentado no Twitter em todo o mundo no domingo 28 de fevereiro de 2021.
Enquanto a pendenga musical segue sem solução, no mundo da moda ocidental a corrida segue acirrada para ver quem consegue se identificar mais com a cultura asiática para abocanhar um mercado que não para de crescer.
O bilionário mercado da moda asiática não para de crescer
Se para os estilistas ocidentais é difícil fazer a distinção entre moda como personalidade e identidade, na cultura asiática a originalidade parece não ter freio.
As pesquisas do Mckinsen Global Institute apontam que até 2040 a Ásia deve alavancar o consumo global em 40%. Em países como a China, por exemplo, grande parte da economia fashion é voltada para pequenas lojas com multimarcas de luxo.
Nos últimos anos a demanda dos consumidores asiáticos, especialmente os chineses, por roupas de alto padrão ocasionou uma grande abertura do mercado para marcas internacionais. Eles querem qualidade, funcionalidade, estilo e design e estão dispostos a pagar por isso.
Para citar alguns, hoje Michael Kors tem lojas em Tóquio, Seul e Hong Kong, além de flagships “jet setter” em Xangai. Valentino tem uma megastore de quatro andares em Hong Kong e 35% do faturamento da Prada vem da Ásia.
3 nomes para ficar de olho
Enquanto a moda ocidental se inspira para promover uma identificação de marca com a cultura asiática, por lá o que mais se vê é pura originalidade.
Em 2015, “bastou” que a estilista chinesa Guo Pei vestisse a cantora Rihanna, para o baile de abertura da exposição sobre a influência da China na moda contemporânea no Metropolitan Museum (NYC), para ser alçada ao estrelato internacional.
Seis anos depois o mundo da moda começa a dar destaque para três estilistas asiáticas que já estão dando o que falar.
Masha Ma
A ex-estagiária da marca Alexander McQueen tem mestrado em moda feminina na Central Saint Martins (Londres). A coleção de graduação foi selecionada para um showcase durante a semana de moda de Londres. Hoje ela se divide entre Xangai e Paris, onde apresentou a coleção na semana de moda francesa.
A forma de Masha Ma interpretar a cultura asiática é futurista e elegante, conquistando celebridades como Lady Gaga, Kylie Jenner e Bella Hadid. Além disso, é bem provável que você já a conheça dos editoriais de moda de revistas especializadas como a Elle, Vogue e Cosmopolitan.
Kathleen Kye
A pegada streetwear de silhuetas simples e detalhes divertidos da estilista, que nasceu em Detroit e mudou para a Coréia do Sul aos 3 anos, já conquistou Bella Hadid e Kourtney Kardashian, por exemplo.
Kye cursou design de moda na Central Saint Martins, mas logo depois voltou para a Ásia. Foi então nomeada para o LVMH Prize em 2014 e competiu no International Woolmark Prize em 2018.
Minju Kim
O toque jovem e alegre, combinado com o avant-garde da alta costura, é a principal característica desta estilista nascida em Seul e formada pela Royal Academy of Fine Arts (Antuérpia).
Vencedora do H&M Awards em 2013 e semifinalista no Prêmio LVMH em 2014, Kim também foi a vencedora do reality da Netflix “Next in Fashion”, em 2020.
Porém, antes disso, a estilista já era famosa, principalmente na Coreia do Sul, por vestir nomes como a apresentadora e modelo britânica Alexa Chung e o grupo sul-coreano BTS (Bangtan Boys).
E então, pronto para se inspirar e desvendar os mistérios da cultura asiática de forma original e criativa?
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